sábado, 10 de agosto de 2013

Detrás do rosto - Ferreira Gullar



Acho que mais me imagino
do que sou
ou o que sou não cabe
no que consigo ser
e apenas arde
detrás desta máscara morena
que já foi rosto de menino.

Conduzo
sob minha pele
uma fogueira de um metro e setenta de altura.

Não quero assustar ninguém.
Mas se todos se escondem no sorriso
na palavra medida
devo dizer
que o poeta gullar é uma criança
que não consegue morrer

e que pode
a qualquer momento
desintegrar-se em soluços.

Você vai rir se lhe disser
que estou cheio de flor e passarinho
que nada
do que amei na vida se acabou:
e mal consigo andar
tanto isso pesa.

Pode você calcular quantas toneladas de luz
comporta
um simples roçar de mãos?
ou o doce penetrar
na mulher amorosa?

Só disponho de meu corpo
para operar o milagre
esse milagre
que a vida traz
e záz
dissipa às gargalhadas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário