domingo, 22 de janeiro de 2012

ELIS ATRÁS DA PORTA


Como já escrevi a alguns meses, 1982 foi o ano de senti o gosto de sonhos inalcançáveis. Tendo que ir à Cidade do Natal, em fins de 1981, para prestar vestibular de medicina, estendi minha estadia por alguns meses na casa da família de Luth Lopes, o alemão naturalizado potiguar, ali no Alecrim. E já se vão trinta anos! E me lembro daquela terça-feira, 19 de janeiro, quando a Rádio Cabugi anunciou a morte de Elis Regina. Estava na companhia de Seu Deusdedith e Lila, sua neta, responsável por me oportunizar momentos agradáveis na capital.
Ficamos olhando um para o outro, recordo-me, assim meio que atordoados, uma vez que a Pimentinha era nossa cantora favorita. Na bodega havia alguns LPs de Elis e curtíamos bastante ouvi-los na Radiola de seu avô. E ficamos na expectativa dos noticiários. E o dia foi de tristeza. E comentei que o ano não estava começando muito bem. Elis do canto bossanovista! Elis do canto de jazz! Elis do Samba! Elis de tudo que fosse ritmo e que sua voz fazia bem! Elis que só a veríamos em imagens e canto de saudades...
Elis, ainda em 1975, com seu Falso Brilhante, cantando Não quero lhe falar,/Meu grande amor,/Das coisas que aprendi/Nos discos... Elis do suingue de Maria, Maria,/É um dom, certa magia,/Uma força que nos alerta/Uma mulher que merece viver e amar/Como outra qualquer do planeta/, que encantou a Europa, no Festival de Montreux! Elis, como a voz da anistia, dizendo: caía a tarde feito um viaduto/E um bêbado trajando luto/Me lembrou Carlitos... /Que sonha com a volta/Do irmão do Henfil./Com tanta gente que partiu/Num rabo de foguete/Chora!/A nossa Pátria/Mãe gentil/Choram Marias/E Clarisses/No solo do Brasil... Elis, na companhia de Tom Jobim, anunciando o fim do verão, com um vento ventando/Com um fim da ladeira/com uma viga e um vão/Com Festa na Cumeeira... 
 
A porta bateu forte. Foi um vento trazendo chuva, no segundo meado de janeiro! Olhei se havia alguém atrás daquela porta. Não vi nada, apenas um pressentimento... Dei prá maldizer o nosso lar/Pra sujar teu nome, te humilhar/E me vingar a qualquer preço/Te adorando pelo avesso... Mas vislumbrei olhos transbordando lágrimas... Vi a maquiagem abrindo-se como uma Apia sem destino... A voz perfeita, sem nenhuma alteração... A voz segurando toda a emoção que a história se propusera. Elis esplêndida! Elis Atrás da Porta!
Gilberto Costa

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