Cúpula dos Povos luta para manter como sede o Aterro do Flamengo
Escrito por: Maurício Thuswohl - Rede Brasil Atual
Encontro internacional da sociedade civil que ocorrerá paralelamente à
Rio+20 – em junho, no Rio de Janeiro – e pretende influenciar a tomada
de decisões do evento oficial, a Cúpula dos Povos travará nos próximos
dias um importante embate político para garantir seu próprio território.
Informados pela prefeitura do Rio e pelo Comitê Nacional de Organização
da Rio+20 (CNO), durante reunião realizada na segunda-feira (12), de
que o espaço inicialmente previsto para a realização da Cúpula (o Aterro
do Flamengo) poderá ser reavaliado e o evento transferido para a Quinta
da Boa Vista, as redes e movimentos sociais já se articulam contra a
mudança e prometem resistir.
Além de estar localizado em um ponto da cidade (na zona sul, mas
próximo ao centro) que permite uma fácil interação com as diversas
camadas da sociedade, o Aterro do Flamengo é um local desejado pelas
organizações do movimento socioambiental por seu valor histórico e
simbólico, já que abrigou há 20 anos o Fórum Global, evento organizado
pela sociedade civil e paralelo à Rio-92. A prefeitura, no entanto,
argumenta que o Aterro não suportaria receber o acampamento onde
permanecerão entre os dias 15 e 23 de junho boa parte das 10 mil pessoas
aguardadas para a Cúpula dos Povos.
Representante do prefeito Eduardo Paes no grupo de trabalho para a
Rio+20, o economista Sérgio Besserman acenou ao Comitê Facilitador da
Sociedade Civil (organizador da Cúpula dos Povos) com a de cessão de
parte dá área do Aterro, indo do Monumento dos Pracinhas ao Museu de
Arte Moderna (MAM), sem, no entanto, a possibilidade de acampamento: “Se
eles tiverem interesse, há espaço suficiente. Mas, se houver a
necessidade de acampamentos, como ocorreu em 1992, eles terão de
acontecer na Quinta da Boa Vista”, disse.
Em nota pública divulgada ontem (14), o Comitê Facilitador da Sociedade
Civil para a Rio+20 afirma o objetivo de manter o Aterro do Flamengo
como sede do evento, na área que vai do MAM ao prédio da UNE, e informa
que “há oito meses negocia esse local com o governo municipal, com o
governo federal e com o Comitê Nacional de Organização da Rio+20 (CNO)
como espaço de realização da Cúpula dos Povos”. Os organizadores
acrescentam que suas prioridades são “preservar e valorizar o patrimônio
público, bem como garantir a integridade do evento, mantendo
acomodações e atividades em áreas próximas, no entorno do Aterro do
Flamengo”.
Apesar das justificativas de logística, especula-se entre os
ambientalistas que Eduardo Paes esteja mesmo decidido a dificultar a
vida dos movimentos sociais, sobretudo depois de ter tomado conhecimento
das críticas generalizadas oriundas desse setor após a divulgação pelo
Ministério da Saúde do fraco desempenho da saúde pública no Rio de
Janeiro. Outra justificativa aventada seria a tentativa de “esconder” a
Cúpula dos Povos para tentar diminuí-la politicamente frente a outros
eventos paralelos à Rio+20 que irão ocorrer, como o fórum promovido pela
Confederação Nacional da Indústria (CNI) no Forte Copacabana.
Decisão na segunda
A disputa ainda não tem vencedor, e as redes e movimentos sociais que
compõem o Comitê Facilitador da Sociedade Civil para a Rio+20
aproveitarão os próximos dias para angariar apoios em escala federal.
Uma reunião entre representantes do Comitê e o prefeito está marcada
para a próxima segunda-feira (19), ocasião em que uma solução de
consenso será tentada. Pelo lado da sociedade civil, especula-se a
presença de “pesos pesados” na reunião, como João Pedro Stédile (MST/Via
Campesina) e um bispo da CNBB. O Planalto também estuda a possibilidade
de enviar um representante à reunião, talvez o ministro Gilberto
Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência.
Independentemente de seu resultado final, a batalha pela utilização do
Aterro do Flamengo pela sociedade civil durante a Rio+20 já é uma mostra
das diferentes visões que estarão em disputa em junho durante a
conferência da ONU e seus eventos paralelos: “Nossa avaliação é que
entramos em um cenário de luta política. A ocupação do Aterro já se
tornou a primeira ação da Cúpula dos Povos a favor dos bens comuns e por
territórios livres do controle das corporações”, disse um dos
integrantes do Comitê.
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